Foi aberta oficialmente na manhã deste sábado (24) a exposição “Entreolhares”. A mostra está instalada no coração de dois eventos que visam a debater o papel da educação profissional no século XXI entre os dias 23 e 27 de setembro em Vitória (ES): o Congresso Mundial da Federação dos Colleges e Politécnicos (WFCP) e a Reunião dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Reditec).
O projeto, realizado pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) em parceria com o Museu da Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo e com a Plataforma VOA Galeria, está instalado em frente aos protótipos tecnológicos trazidos por Instituto Federais, expostos no estande do Ministério da Educação.
As obras de seis artistas apresentadas ao público chamaram a atenção dos professores João Ricardo Meireles e Robson Ferreira de Almeida. “Que fantástico! Essa escultura acende”, disse Meireles ao interagir com a obra de Maurício Salgueiro – Escultura II, Lâmpada fluorescente, socorro elétrico e caixa de madeira.
“Misturar arte em um ambiente de educação tecnológica parece uma provocação, nos faz pensar sobre a relação das duas áreas na Rede Federal”, relata Almeida. Segundo Aýla Lourenço, artista e educadora, o objetivo de ocupar esse espaço é proporcionar aos presentes o contato com a arte. “Aos que observam ‘Entre olhares’, desejamos que levem algo novo consigo, que repensem conceito e vivenciem esse contato com a arte”.
Para o diretor do Museu da Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo, Renan Andrade, o contraste da visão artística e do viés utilitarista da formação técnica, dialogam de forma interessante no evento. “Podemos tentar, inclusive, desmitificar um pouco a questão da subjetividade da arte. Temos aqui obras que necessitaram, por exemplo, de intervenção tecnológica para sua execução ou até mesmo de inovação tecnológica por parte do artista”, explica.
Andrade comenta que Dionísio Del Santo, por exemplo, desenvolveu uma técnica de serigrafia inovadora para seu trabalho, conhecida como Matriz Espontânea. “Vemos como, em alguns casos, a arte é responsável pelo avanço tecnológico”, diz.
De acordo com o artista Júlio Tigre, presente na abertura, a inserção da arte em evento de educação é fundamental em função do contexto de discussão do papel da disciplina de arte na composição do novo Ensino Médio no Brasil. Júlio, que também é professor de arte, comenta que a arte na Educação Fundamental e Ensino Médio é responsável por fomentar o espaço de liberdade dos indivíduos.
Para o artista a discussão passa pela definição da função da Educação como formadora de profissionais ou de sujeitos, “É uma das únicas válvulas de expressão da valorização do sujeito possibilitadas pela escola. A arte nos aproxima do mundo, não como consumidores, mas como observadores”, afirma.
Saiba mais sobre a exposição
Um dos destaques da “Entreolhares” são as peças de óleo sobre tela, serigrafia geométrica e sobre papel de Dionísio Del Santo. O artista é considerado o principal modernista capixaba e um dos mais originais concretistas brasileiros.
Uma carta, uma fotografia e quatro mãos. A instalação “Irmãos”, de Júlio Tigre, apresenta ao espectador um momento ímpar vivido entre ele e seu irmão no momento em que um acidente amputa uma das mãos desse irmão e busca retomar uma relação de proximidade fraterna por meio da arte.
Com um mapa astral ao avesso. Aýla Lourenço traz a Série Avessos que, em costura sobre canson, explora o lado oculto de pessoas próximas a artistas. De acordo com a artista, o principal são os nós formados pela costura, que registram a identidade sobre cada personagem. “São como a impressão digital: única”.
A arte cinética de Maurício Salgueiro une arte e interatividade. Exposta no centro da mostra, a obra Escultura II, Lâmpada fluorescente, socorro elétrico e caixa de madeira é um convite para que o público tenha uma experiência visual e tátil.
As fotografias de Gabriel Borém (Onde o sol nunca se põe) e de Ludmila Cayres (Série Contexturas: pernas, vestido e cabelos) abordam a subjetividade da imagem envolvendo cores e texturas.
Nicole Trevisol e Gustavo Martins – WFCP/Reditec 2016.
Crédito: Mosaico Imagem