Foi com otimismo que o sociólogo italiano Domenico De Masi, autor do conceito de ócio criativo, falou sobre o futuro da humanidade durante a conferência “Perspectivas para a sociedade do século XXI”, que abriu a programação deste sábado (24), no segundo dia do Congresso Mundial da Federação dos Colleges e Politécnicos (WFCP) e da 40ª Reunião dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Reditec).

Após fazer uma retrospectiva sobre as grandes revoluções que mudaram a economia, o trabalho e o desenvolvimento humano, De Masi pontuou as consequências do neoliberalismo para a sociedade e fez uma projeção dos frutos destas consequências para os próximos 30 anos. “O neoliberalismo estimula uma desigualdade social crescente, que resulta na migração em massa e no contraste entre as necessidades humanas e os recursos naturais, explorados como se fossem infinitos. Em 2030, seremos 8 bilhões de pessoas no mundo, com uma grande diferença entre ricos e pobres. A China terá os maiores bancos e concentração de riqueza e a inteligência artificial será a marca do século XXI”, afirmou. Parece ruim, mas para o italiano, pode ser revertido.

Segundo De Masi, o progresso científico não significa o fim da mão de obra humana. “A máquina pode realizar tarefas em grande escala, rapidamente, mas tem uma limitação para ir além do quantitativo, ao contrário de nós. Estamos em um momento mágico em que podemos recuperar a importância do que é qualitativo, coisas como gentileza e delicadeza, criatividade e cultura, que as máquinas nunca poderão nos dar”, afirmou.

No âmbito do meio ambiente, o italiano defende que a formação humanística pode mudar a maneira como o neoliberalismo direciona a exploração dos recursos naturais. Da mesma forma, uma nova relação com o trabalho e com o estudo tem potencial para reduzir o desemprego e incentivar o desenvolvimento social. É o que ele chama de ócio criativo.

“A sociedade vive de vencer desafios como a fome, o tédio e a morte, mas não precisa fazê-lo somente usando tecnologia. Somos a geração da cultura e da criatividade. Temos que aprender a misturar trabalho, educação e lazer, para que eles sejam exercitados o tempo todo, em ambientes diversos, pois não são atividades excludentes. Vejam, o que estamos fazendo agora? Trabalhando um pouco, aprendendo um pouco e nos divertindo também. Pelo menos, eu estou me divertindo”, completou, de forma bem humorada.

Reforma do Ensino Médio

A par da atual situação política do Brasil, Domenico De Masi criticou a exclusão das disciplinas de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física do currículo obrigatório do Ensino Médio. “É uma loucura total, pois educar é enriquecer a dimensão estética e filosófica das coisas. Devemos ser os pioneiros da formação humanística; destruir isso é assassinar a civilização. Precisamos ter cuidado com as políticas perigosas que estão ameaçando o desenvolvimento intelectual nos países latino-americanos”, afirmou.

O posicionamento do intelectual italiano foi bem recebido pela plateia. Para a reitora do Instituto Federal Catarinense, Sônia Fernandes, “a fala dele veio ao encontro do que se compreende como uma educação integral da formação humana, que transcende a dimensão apenas técnica, especialmente nos espaços de formação profissional como os Institutos Federais. Ficou claro para nós que escola deve se constituir como espaço de reflexão para que a humanidade se desenvolva de modo mais adequado, prezando pelo desenvolvimento sustentável e por uma educação estética”, avaliou.

Domenico De Masi ainda fez um convite à sociedade: “doar felicidade”. Leia mais.

Gabriela Lapa Teles Barbosa – WFCP/Reditec 2016.

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