Foto: Divulgação

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O sociólogo italiano Domenico De Masi, com atuação focada no trabalho e nas organizações, é um dos grandes nomes esperados para o Congresso Internacional da Federação dos Colleges e Politécnicos (WFCP, na sigla em inglês). Como conferencista, o autor de “Ócio Criativo” falará sobre “As perspectivas para a sociedade do século 21”, no dia 24 de setembro, das 9 às 11 horas, e, na manhã seguinte, das 9 às 12h, participará de mesa-redonda ao lado do pesquisador britânico em Educação Superior Robert Cowen, da empreendedora americana na área de Tecnologia da Educação Deborah Yungner, e do CEO da Universidade Alemã Steinbeis-Sibe, Werner Faix.

Na entrevista a seguir, De Masi expõe sua visão sobre a evolução da sociedade no século 21 e demonstra sua expectativa para um mundo cada vez mais tecnológico, no qual a subjetividade e a estética exercerão forte influência sobre o homem.

 
Como você percebe a sociedade de hoje e quais tendências você antevê para o futuro?
Todos os meus livros tentam responder a esta questão, e não acho que seja possível sintetizar em poucas palavras. No entanto, eu chamo de “industrial” a sociedade que triunfou entre a metade do século 1700 e a metade do século 1900, porque sua (economia e sua cultura foram centralizadas na produção em massa de bens materiais manufaturados nas fábricas. Defino como pós-industrial a sociedade atual, porque o sistema está agora centralizado em bens intangíveis: serviços, informação, símbolos, valores, estética.
Nós continuamos a consumir produtos agrícolas – trigo, frutas e legumes –, mas necessitamos menos dos camponeses, agora substituídos em grande parte por tratores automatizados e fertilizantes químicos. Continuamos a consumir produtos industriais, como carros e geladeiras, mas precisamos menos dos trabalhadores, substituídos em grande parte por robôs e empregados substituídos por computadores. Nesta nova sociedade poderíamos viver até 750 mil horas, em comparação com as atuais 700 mil. As pessoas mais escolarizadas terão vida longa e as relações sociais serão mais intensas.
A China terá um PIB superior ao dos Estados Unidos os maiores bancos do mundo e 15 megacidades com mais de 25 milhões de habitantes; ao lado dos Brics (Brasil, Índia e China) surgirão os Civets (Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul); teremos 200 mil horas de tempo livre, no montante de 8.300 dias, o que corresponde a 23 anos, e ficará óbvio que, para muitos objetos, a perfeição técnica é mais importante do que as necessidades de quem os compra. Portanto, o valor de mercado deles é cada vez mais relacionado à beleza e à grife.
Os valores dominantes serão a criatividade, a subjetividade, a emoção, a virtualidade, a qualidade de vida. Os valores típicos “femininos” – ou seja, a estética, as percepções individuais, a emoção e a flexibilidade – colonizarão também os homens.

Qual a sua visão sobre o tema central do evento, “O papel de educação profissional no século 21”?
A produção e transmissão dos conhecimentos será de acordo com o critério de “muitos para muitos”, como é o caso da Wikipédia ou do Facebook, onde todos contribuem para a formação do conhecimento e todos são beneficiados.
Neste sistema, a formação profissional desempenha um papel fundamental, mas renova profundamente seus conteúdos, seus métodos de ensino e seus objetivos.
Visto que muito trabalho executivo será delegado às novas tecnologias, caberá especialmente aos profissionais o desempenho criativo. Porém não será um exercício feito por um único indivíduo criativo, como os poetas, porque exigirá a criatividade coletiva dos grupos interdisciplinares, unidos por uma missão compartilhada e conduzida por líderes carismáticos.

Em sua opinião, ócio criativo, competitividade, tecnologia e qualidade de vida estão entrelaçados?
Enquanto o trabalho executivo exige monotonia, tédio, repetição e exclusividade, o criativo permite que você produza aprendendo, se divertindo. Quando desempenhamos alguma atividade criativa, com a qual produzimos riqueza, podemos, simultaneamente, estudar coisas novas, ganhar conhecimento e nos divertir como se brincássemos, alcançando o bem-estar.
Exercitamos o ócio criativo quando, ao mesmo tempo, trabalhamos, estudamos e brincamos. Portanto, ócio criativo, tecnologia e qualidade de vida estão estreitamente interligados, substituindo a competição que regula a coexistência entre os animais pela cooperação que deve regular a convivência entre os seres humanos.

Como a tecnologia e a inovação podem contribuir para a qualidade de vida e para a construção de uma sociedade melhor?
A Microsoft nasceu em 1975, a Web em 1991, o Google em 1997, o Facebook em 2004, o Twitter em 2006. Então, em menos de 15 anos, em 2030, aqueles que nasceram com a Microsoft terão 55 anos, aqueles que nasceram com a Web terão 39 anos, quem nasceu com o Google terá 33 anos, quem nasceu com o Facebook terá 26 anos, quem nasceu com o Twitter terá 24. A geração dos “analógicos” será, portanto, substituída em breve pela geração dos “digitais”.
Ao mesmo tempo, a informática terá transformado o mundo inteiro em uma grande praça pública: tele-aprenderemos, tele-trabalharemos, tele-amaremos, nos tele-divertiremos. A inteligência artificial poderá resolver problemas com manifestações incompreensíveis para o ser humano. O conceito de privacidade tende a desaparecer. Será quase impossível esquecer, se perder, se entediar, se isolar. Graças à cirurgia poderemos alterar profundamente nossos corpos; graças à farmacologia poderemos inibir nossos sentimentos, intensificá-los, simulá-los, combiná-los.