Após dias de intensas trocas de experiências sobre o ensino profissional ao redor do mundo, membros da Federação Mundial de Colleges e Escolas Politécnica (WFCP, sigla em inglês) reuniram-se, neste domingo (25), para discutir as principais demandas. Culminando no último dia de programação do 8° Congresso Mundial da WFCP, que aconteceu paralelamente à 40ª Reditec, os participantes dividiram-se em grupos de afinidades para discutir pontos específicos sobre o tema da educação profissional e alinhavar possibilidades de ações em cada uma dessas áreas: desenvolvimento de lideranças e empreendedorismo, acesso à aprendizagem e emprego e serviços ao estudante, pesquisa aplicada e inovação, altas competências técnicas e escolas verdes.
“Quebre as regras”, “ouça as outras pessoas”, “siga as suas paixões”. Seguidas de muitas palmas e interjeições de entusiasmo do público, essas foram algumas das dicas inspiradoras proferidas pelos participantes do grupo sobre desenvolvimento de lideranças e empreendedorismo no fechamento dos trabalhos. Após o relato de 11 experiências de sucesso de instituições do Brasil, Canadá, Quênia, China e Uganda, a presidente da WFCP, Denise Amyot, instigou os convidados a pensarem em uma única frase que resumisse ao público, em grande parte formado por estudantes participantes do Acampamento Internacional da Juventude (International Youth Camp), a ideia de liderança.
Além desse convite, a coordenadora da atividade propôs outro desafio aos integrantes do grupo: pensar a possibilidade de empreender mesmo sem acesso a recursos financeiros. “Empreender não diz respeito a dinheiro”, sugeriu o presidente da universidade canadense KPU, Alan Davis, complementando que o empreendedorismo está, antes, muito mais vinculado a envolvimento e paixão. O estudante André Coelho, um dos participantes do Acampamento da Juventude, respondeu na mesma linha. “Se você não tem dinheiro para investir, invista seu tempo”, falou André, arrancando muitas palmas do público. Outros pontos abordados pelos participantes também estimulavam os jovens a substituir o capital financeiro pelo capital intelectual e social na proposição de qualquer empreendimento.
Sustentabilidade em pauta
Na discussão do grupo “Escolas Verdes”, foram apresentados dois projetos que visam à construção de uma escola sustentável e à oferta de uma educação integrada com a temática. O primeiro projeto é do Instituto Federal de Sergipe (IFS), intitulado Game Verde. O projeto envolve estudantes da instituição para o desenvolvimento do jogo, que abrange as temáticas sustentabilidade, inovação e empreendedorismo. O objetivo do game é incentivar alunos do ensino fundamental a fazer o descarte de resíduos sólidos da maneira correta.
O segundo, da escola canadense Durhan College, é intitulado Living Green e trata da implementação de uma mudança de comportamento na instituição de ensino por meio da criação de um comitê de sustentabilidade. O projeto desenvolveu programas de reciclagem e iniciativas para produção alimentar de maneira sustentável, além de sugerir mudanças no currículo.
De acordo com o mediador da atividade, Martin Riordan, o seminário conseguiu encaminhar duas medidas concretas para as atividades apresentadas. O projeto canadense busca parceria para ser replicado em outros países por meio da Unesco – Unevoc. Com relação ao projeto sergipano, Martin afirmou que o grupo busca apoio com a Unesco e com membros da Asia Pacific Economic Cooperation (Apec) para a expansão do Game Verde. “Pretendemos traduzir o jogo e licenciar para o uso em outros países”, afirma.
Integração e desenvolvimento local como metas
O professor de História Lício Costa, do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), participou do grupo de afinidade de Pesquisa Aplicada e Inovação, falando sobre o desafio de estabelecer um projeto integrador que lida com problemas comuns às escolas da Rede Federal: evasão, retenção sistemática de alunos e falta de integração curricular.
Costa apresentou o projeto do campus Cabedelo no qual ocorre a integração de diferentes cursos, disciplinas e grupos da comunidade acadêmica em torno da atenção a um aspecto da economia local, a exploração de bivalves (ostras, mexilhões e outros). “Como disse o Domenico De Masi, estamos aqui para nos divertir, além de trabalhar e estudar. A variedade cultural do evento é gigantesca, e a troca de experiências é fundamental”, afirmou o professor.
Experiências positivas aplicadas a diferentes realidades
O grupo de afinidade Altas Competências Técnicas foi coordenado pelo diretor do New College Durham (Inglaterra), John Widdowson, e contou com apresentações de representantes da Inglaterra, Canadá, China e Austrália. Para Widdowson, o fato de haver tantas realidades diferentes sendo discutidas não impede que o relato de experiências positivas possa ser aproveitado por todos, pois “soluções boas funcionam sempre”.
O diretor do New College Durham defendeu o ensino na perspectiva de que o aluno possa estar preparado para estudar em qualquer lugar do mundo e, para isso, segundo Widdowson, é importante conhecer diferentes realidades. “Temos mais em comum do que se poderia pensar.”
Grupos trocam experiências sobre oportunidades aos estudantes
Mediador do grupo de afinidade Acesso à Aprendizagem e Emprego, o reitor do Instituto Federal de Brasília (IFB), Wilson Conciani, avaliou como produtiva a reunião de trabalho. Segundo ele, dividir as apresentações com representantes do grupo Serviços aos Estudantes foi muito apropriado, uma vez que essas duas áreas estão ligadas. “O sucesso dos estudantes depende do apoio que damos a eles”, ressaltou Conciani, acreditando que o encontro foi um momento de compartilhar experiências que podem fazer a diferença para todos os envolvidos.
Pelo grupo Serviços aos Estudantes, participantes da Austrália, China, Brasil e Canadá apresentaram trabalhos desenvolvidos com alunos. A experiência do Canadá, por exemplo, é de apoio a crianças e jovens refugiados. Já a representante do Brasil, Áurea Santos, do Instituto Federal do Piauí, mostrou os resultados do programa que já preparou 96 alunos para participar de intercâmbios em 10 países, entre eles Estados Unidos, Canadá, China e Nova Zelândia.
Representantes de universidades da China e do Canadá falaram sobre suas experiências com programas que facilitam o acesso dos alunos no mercado de trabalho. A chinesa trata da parceria da Universidade Profissionalizante, uma das 100 instituições públicas da área, com empresas da área industrial e ferroviária.
O programa “Professores para o futuro”, desenvolvido pela Rede dos Institutos Federais em parceria com duas universidades de Ciências Aplicadas da Finlândia, capacitou professores brasileiros durante três meses no país europeu. O objetivo do programa é tornar os docentes agentes de mudanças, a fim de trazer para as salas de aula da Rede Federal a proposta do professor facilitador, que utiliza métodos modernos no aperfeiçoamento do aprendizado tendo como foco principal o aluno.
Greice Gomes, Gustavo Martins, André Simões, Denise Moreira – Reditec/WFCP 2016
*Mosaico Imagem.