Com a proposta de responder à pergunta “Qual o melhor modelo de educação profissional para nossos descendentes?”, quatro conferencistas da Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos e Itália refletiram sobre o papel que a educação profissional e tecnológica deve assumir na sociedade pós-industrial do século XII.

A mesa-redonda, realizada na manhã deste domingo (25), foi a última reflexão do ciclo de palestras previsto na programação do 8° Congresso Mundial da WFCP, que acontece em Vitória (ES), junto à 40ª edição da Reditec.

Durante três horas, o sociólogo italiano Domenico de Masi, o pesquisador britânico Robert Cowen, a executiva americana Deborah Yungner e o professor Wener Faix relataram experiências de integração entre educação e mercado de trabalho e fizeram ponderações teóricas quanto às armadilhas de se buscar modelos educacionais ideais.

Empreendedorismo e Inovação

Presidente da empresa ERBUS Inc. e eleita a inventora do ano nos Estados Unidos, Yungner defendeu um ensino voltado ao empreendedorismo, em colaboração com as comunidades, e ao desenvolvimento de lideranças, capaz de estimular a confiança e iniciativa nos jovens.

“Ter confiança impacta no caráter das pessoas, na integridade de suas ideias, bem como em suas competências, que irão se refletir na sua capacidade técnica para o trabalho e nos resultados obtidos a partir dele”, disse.

Segundo Yungner, que foi responsável pelo desenvolvimento de um sistema de infraestrutura utilitária facilmente adaptável para situações críticas como desastres naturais, ataques terroristas e pandemias, os professores devem propiciar aos alunos espaços para a criatividade e inovação dentro e fora da sala de aula.

“Não é preciso muito para mudar o mundo. Com uma abordagem holística que integre mente, que deve ser estimulada além das disciplinas acadêmicas; corpo, que precisa ser exercitado; e espírito, para que se consolide a liderança necessária no mundo de hoje, a educação irá preparar os jovens para serem bem-sucedidos”, analisou.

Também ressaltando a importância do poder criativo para a educação, o diretor da Escola de Negócios Internacionais e Empreendedorismo da Universidade de Steinbeis, em Berlim, Werner Faix, detalhou o projeto pedagógico da instituição, com ênfase na “experiência de inovação no mundo real”, menos dependente da academia.

“Nosso modelo é de uma educação 50% teórica, com seminários e atividades autoinstrucionais, e 50% dedicado ao desenvolvimento de projetos, com trabalhos em empresas e estudos dedicados à proposta do projeto”, afirmou.

De acordo com Faix, o único fator importante para as empresas hoje em dia é a inovação, que não deve ficar restrita apenas ao conceito tecnológico associado à palavra, mas que deve atingir também as estruturas organizacionais de instituições de ensino e empresas.

“Para inovar, é preciso competência, em um sentido que englobe conhecimento e qualidade e que depende também da personalidade de cada um. Por isso, nosso programa na universidade prevê testes de competências, para que nossos alunos possam fazer autoavaliações de suas capacidades e elaborar um planejamento de crescimento pessoal”, explicou.

 

Contraponto

O sociólogo italiano, Domenico de Masi, alertou para os perigos de que o objetivo principal da formação educacional dos jovens seja prepará-los para o trabalho e para as necessidades do mercado.

“Um jovem de hoje irá trabalhar, se muito, por 80.000 horas enquanto estiver vivo. Isto corresponde a 1/7 do tempo de vida. O que esses jovens farão com as 450.000 horas de não-trabalho? Como professores, devemos praticar o ensino em sua totalidade, suas dimensões racionais e práticas mas também as emocionais e estéticas”, analisou.

Afirmando não ser um entusiasta da palavra inovação, de Masi recomendou mais cautela no uso indiscriminado do termo, em especial quando associado sempre a significados positivos e de melhoria da sociedade.

“A bomba atômica foi uma inovação também. É preciso que a inovação tenha sempre um objetivo ético, ela deve ser capaz de enriquecer o mundo e as coisas de significado e sentido e ajudar a diminuir o aproveitamento do homem pelo homem. Assim ela irá contribuir para que sejamos mais felizes e completos”, alertou.

O uso de palavras descontextualizadas de suas implicações negativas e a utilização de conceitos como produtividade e mensuração da qualidade também foram abordados pelo pesquisador britânico Robert Cowen, que acredita que a sociedade do conhecimento é cheia de armadilhas.

“Falamos muito de criatividade, mas impomos diversas regras para que ela se manifeste, uma temporalidade para que ela possa ser medida e qualificada, que acabamos destruindo a própria criatividade. Einstein, hoje em dia, nunca seria um professor efetivo e estável de nenhuma universidade, porque sua teoria não foi comprovada em cinco anos”, disse.

Para Cowen, vivemos em “um novo mundo, mas continuamos usando palavras velhas que se contorcem e se quebram”, tendo impacto direto em falhas de comunicação e entendimento. Para o britânico, a busca por um modelo educacional ideal é uma tarefa que já nasce fadada ao fracasso.

“As práticas educacionais que conhecemos são indissociáveis da natureza dos problemas que elas querem solucionar. Os problemas, por sua vez, são característicos de cada cultura em determinado momento histórico. Não há apenas um modelo educacional, o melhor. Exceto para o Banco Mundial, talvez”, encerrou, com ironia.

 

Avaliação

Para o reitor do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Denio Rebello Arantes, a mesa-redonda foi o ápice do WFCP, pois provocou a reflexão sobre caminhos para direcionar o papel da educação profissional no século XXI. “Não estamos formando pessoas só para hoje. Estamos formando pessoas para os próximo 50 anos, estamos formando para o futuro, e precisamos encontrar soluções para a educação”, disse.

 

Vinícius Villas Boas Neto Bazenga Vieira – WFCP/Reditec 2016.

*Mosaico Imagem.