Cães-guia entregues aos deficientes visuais. Pedreiros dando aula sobre construção civil. Mulheres empoderadas e recuperando a autoestima. Estudantes se tornando cidadãos do mundo. Um barco que virou sala de aula. Essas e muitas outras histórias que integram ensino, pesquisa e extensão à comunidade brasileira foram contadas por Institutos Federais (IFs) durante a tarde do segundo dia de Congresso Mundial WFCP e Reditec 2016, (24/09).

Dez IFs relataram o desenvolvimento e o resultado das suas experiências exitosas em extensão a um público atento e curioso. O debate foi realizado das 16 horas às 19 horas no Auditório Vitória.

Aline Camargo, do IFGoiano, iniciou a sua apresentação com um vídeo-reportagem sobre o projeto “Bichos Terapeutas”. “Uma vez por semana os animais vão até a escola para ajudar na recuperação de crianças com necessidades específicas”, revela. Além da recuperação, o contato com os animais proporciona aos alunos a inclusão, o bem-estar social, a recuperação a curto prazo e a qualificação de recursos humanos voltados à Terapia Assistida por Animais (TAA).

O “Barco Escola Aprendendo com o Mar”, do IFSC, transformou uma estrutura flutuante em sala de aula. “A ação educativa envolve servidores, estudantes e a comunidade local em torno da educação na área marinha e em recursos pesqueiros. Ainda atuamos na conscientização sobre a preservação e uso do mar. Em 2016 foram atendidas 680 pessoas”, conta Maria Cláudia Castro.

Setecentos e trinta e sete agricultores familiares já foram atendidos pelo projeto “Semana da Agricultura Familiar” do IFMA. Uma delas aprendeu a fazer sandálias a partir da fibra do buriti e, agora, a filha não andaria mais descalça. “A qualificação faz com que criemos a resistência da agricultura familiar por meio de valorização e capacitação aliando a teoria com a prática”, conta Glenda de Barros.

A primeira “Mostra Extensionista” do IFPA foi apresentada por André Carvalho dos Santos como um alerta à documentação, registro e compartilhamento de conhecimentos de extensão aos diversos públicos diretos e indiretos dos IFs. “É preciso consolidar o viés extensionista e, para isso, existe a necessidade de mensurar, avaliar e divulgar as experiências”, fala ele ao apresentar a logomarca criada especialmente para construir a identidade da extensão.

Orgulhoso, Luís Lucas da Silva relatou o projeto “Minha comunidade e um assentamento rural”, do Ifal. A atividade de extensão foi realizada no Assentamento Rural Nova Jerusalém a partir da construção de uma unidade do IF lá. “Adotamos uma comunidade e, em conjunto com as demandas e anseios deles, desenvolvemos diversas ações. A assistência técnica foi trabalhada com o desenvolvimento sustentável, a geração de renda e o potencial turístico. A criatividade e o desafio assumiram o lugar antes ocupado pela baixa autoestima e, disso, nasceu uma associação formada pelas mulheres”, diz Silva.

“Do sertão para América” é um projeto do IFSertão-PE que torna os estudantes cidadãos do mundo. Jeziel Júnior da Cruz conta que a parceria entre o IF e a empresa norte-americana Amazon Produce Network nasceu em 2003 e permite, ao estudante, conhecer o processo, a inspeção e a gestão na exportação de frutas. “Observamos o arranjo produtivo local (APL) e potencializamos isso, pois temos as mais deliciosas frutas e as melhores cabeças”.

A “Rede Rizoma” do IFPB é um projeto que traz na sua essência a filosofia de Deleuze. Segundo Vânia Medeiros, a política institucional visa alterar o modelo de trabalho individualizado para o coletivo. “O conceito de rizoma busca a construção constante de atores para a transformação de uma realidade de forma contínua. Por isso, o diálogo é feito por grupos de extensão envolvendo ideias de um coletivo: estudantes, professores, comunidade. Com isso, os interesses de todos são atendidos, e não somente de uma pessoa ou um grupo específico”.

Emocionado, Luiz Ferreira falou sobre o “Projeto Cães-guia” do IFC. O primeiro a ser implantado no Brasil como piloto para outros IFs, o projeto atrela ensino e extensão porque forma instrutores e treinadores de cães-guia e, ainda, envolve a comunidade na socialização desses cães durante o seu preparo que resultará na entrega a um deficiente visual. “Um dos momentos mais emocionantes que tivemos foi a entrega do cão-guia Thor ao Felipe. Vimos o Thor abraçar, literalmente, o Felipe e após a formação da dupla acompanhamos uma evolução na vida social dele: maior liberdade, mais mobilidade e interação, inclusão social. Hoje Felipe cursa duas faculdade e se tornou uma liderança na região para a causa, um menino que não saia de casa”, revela ele.

No projeto “Edifica”, do IFSertão-PE, são os pedreiros e serventes que ensinam os estudantes sobre técnicas de construção civil. De acordo com Camila Macedo os conhecimentos de vida são misturados à teoria. “Foram quatro minicursos que valorizaram a experiência profissional e ensinaram aos nossos alunos do médio/técnico uma nova percepção do trabalho. Atrelamos o proeja ao médio/técnico e conseguimos erradicar a evasão”, conta ela.

Por fim, mas não menos importante, foi a vez de o Ifam relatar o projeto “Tradução de lendas amazônicas: do português para libras”. Maxiliano Barros conta que foram envolvidos alunos, servidores e a comunidade em um trabalho voluntário e investigativo. “Seis histórias foram catalogadas, após duas estudantes ouvirem as narrativas de idosos indígenas: Guaraná, Boto, Anselmo, Jurupari, Matinta Pereira e Origem do Rio Maués. As lendas foram transcritas do português para Libras e, em seguida, transformadas em peças teatrais”.

Com a conclusão das apresentações, o mediador abriu o espaço para perguntas e debate entre os participantes. Por meio dos relatos de experiências de extensão é possível perceber que iniciativas como essas reforçam que a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica tem a capacidade de impactar nas comunidades e transformar vidas. Em locais em que antes não havia expectativas, agora há conhecimento e renda. Além de mudar a realidade econômica local, as atividades de extensão quebram paradigmas e permitem o crescimento social. A cultura é reafirmada e as comunidades se veem cercadas de novas alternativas. Estudantes, servidores e comunidade se conectam em rede por meio de iniciativa extensionistas.

Nicole Trevisol – WFCP/Reditec 2016.